Point of View #02: Filipa Pinto Coelho
O papel da publicidade no "fazer o bem sem olhar a quem".
Filipa Pinto Coelho é gestora de comunicação, fundadora dos projetos sociais CafécomVida e VilacomVida e representante do café-restaurante Joyeux Portugal. Enquanto pessoa e profissional, o seu objetivo é transformar a vida de jovens adultos diagnosticados com Trissomia 21 e Autismo, permitindo-lhes ganhar cada vez mais autonomia e mostrarem ao mundo os seus super-poderes ocultos.
Cada vez mais, as questões relacionadas com a inclusão fazem-se presentes no nosso quotidiano - independente de qual seja a lente pela qual olhamos mais profundamente para o tema. Seja nas notícias, ou nas redes sociais, não faltam relatos de pessoas que atravessam experiências de inclusão (ou a falta dela).
O facto é: hoje, falar sobre pessoas é falar sobre como podemos incluí-las nas conversas, nos espaços e no futuro da nossa sociedade. Surge, assim, uma excelente oportunidade para as marcas usarem os seus espaços mediáticos e de influência para promoverem ações que impactam positivamente a experiência de pessoas que passam por algum tipo de exclusão social.
O assunto, apesar de importante, é complexo e traz consigo diversas camadas. E ninguém melhor do que a Filipa Pinto Coelho, representante do Café Joyeux, para dar a sua opinião sobre o assunto. Nesta Independence POV, o mic é todo dela.
Inclusão e diversidade são temas que estão nos assuntos do dia. Do ponto de vista dos negócios, o que é que estes tópicos representam para as marcas?
Filipa Pinto Coelho (FPC): Temos felizmente sentido que se tratam de oportunidades para reforçar o valor das marcas e da sua atuação junto da sociedade. Esperamos, por isso, que se tratem de temas que permaneçam em alta daqui para a frente e não se desvaneçam como as modas, pois são temas construtores de futuro, que transformam a sociedade e a vida de todos nós para o bem.
Para os empresários e líderes que desejam tornar as suas equipas mais inclusivas e diversas, o que devem levar em consideração?
FPC: Que a riqueza das suas equipas está nessa diversidade e na capacidade de entender e conhecer a vida, as pessoas e o mundo como elas são e não apenas uma parte; que todas as vidas se transformam com a verdade que emana destas relações e que esse impacto é imediato e, finalmente, que se estas empresas tomarem a liderança também com esta atitude e vontade de transformar, estão também a fidelizar as suas equipas criando laços que ficam.
“Vale sempre a pena sonhar alto e acreditar que quando se trata de fazer o bem, todas as portas se continuarão a escancarar à nossa frente”.
Relativamente à diversidade e à inclusão, onde estão as maiores oportunidades para as marcas dos diferentes setores?
FPC: Pensamos que qualquer marca em qualquer setor pode descobrir valor nestes pilares. É aqui que também se comprova o seu ADN criativo. Tratar a inclusão (ou não exclusão) de pessoas ditas diferentes como um tema social é também ver uma oportunidade para fazer nascer uma nova vertente desta criatividade na comunicação com os seus clientes, aproximando-os.
Quais são os pilares da inclusão e da diversidade para as marcas? (ou como é que as marcas se podem tornar, na prática, mais diversas e inclusivas?)
FPC: Envolvendo-se e tornando-se investidores nas causas e fazendo envolver também as suas equipas, criando relações win-win com as mesmas ao longo do ano e não apenas no Natal.
Por último, o Café Joyeux está aberto há cerca de seis meses em Lisboa. Quais foram os pontos altos deste período, que surpresas ou aprendizagens pode partilhar connosco e que ajudariam outras marcas no seu processo de se tornarem mais inclusivas e diversas?
FPC: Têm sido dias seguidos vividos com a recompensa do esforço feito para conseguirmos abrir aquele que esperamos ser apenas o primeiro de muitos cafés Joyeux pelo país 😊
Pontos altos: ver a Joana feliz porque finalmente teve a coragem para apanhar os transportes sozinha e agora já consegue ser autónoma. Ver o David feliz porque já conseguiu fazer registos na caixa do café. Ver a Carolina radiante porque vai assinar o seu contrato de trabalho e, assim, já pode ter um dia uma casa para receber os amigos quando estão tristes. Ver a felicidade estampada nos rostos de cada um destes super-heróis, provando que estamos no caminho certo. E sentir a alegria que vemos em toda a equipa de suporte – supervisores, técnicos, marketeers e gestores, pois toda esta energia nos transforma.
Aprendizagens: vale sempre a pena sonhar alto e acreditar que quando se trata de fazer o bem, todas as portas se continuarão a escancarar à nossa frente. Que se vencemos o medo de arriscar, garantimos a capacidade de crescer e provar aquilo em que acreditamos, bem como envolvemos o mundo em torno de causas que passaram a ser vistas como essenciais na nossa vida e não “dos outros”.