Glauco Madeira é consultor de modelo de negócios e business design com mais de 12 anos de experiência ao lado de marcas como Mercedes-Benz, Coca-Cola, Banco de Portugal, Delta Cafés, Tinder e Rock in Rio. Trabalhou também como professor no MBA na Celso Lisboa, uma escola de negócios inovadora no Rio de Janeiro, onde ensinou empreendedorismo e inovação.
Quando pensa em inovação nas empresas, o que é que lhe vem à cabeça? Seria uma sala repleta de gadgets futurísticos? Ou, quem sabe, a concretização plena do conceito de anywhere office?
Independente de qual seja a sua primeira impressão sobre o assunto, o entrevistado desta edição da Independence POV, Glauco Madeira, garante que tão importante quanto planear o futuro, é entender o nosso presente: as nossas vidas, relações, comportamentos, desejos, dores e expectativas.
Spoiler: vêm aí bons insights sobre a importância do Design Thinking.
Os últimos dois anos foram de intensas mudanças para as empresas. Como é que estas podem estar mais preparadas para as novas necessidades de inovação que ainda estão por vir?
Glauco Madeira (GM): É uma pergunta complexa para qual não há respostas simples. Mas um bom começo pode ser tirar tempo para inovar, para projetos na empresa que pensem o futuro, sejam novos produtos, serviços, experiências ou até modelos de negócio. Se uma equipa está 100% do seu tempo focada em resolver problemas do presente, dificilmente estará a criar o futuro.
De que maneira o Design Thinking pode ser usado para auxiliar as empresas a implementar inovações, a melhorar processos no desenvolvimento de negócios e a planear o seu futuro?
GM: O Design Thinking é uma forma de inovar com foco no ser-humano. Precisamos entender as pessoas, seus comportamentos, desejos, dores e expectativas para criar algo que faça sentido para a vida delas. Essa forma de pensar e agir prega a colaboração: co-criar com pessoas que têm perspectivas diferentes sobre o mesmo desafio (diferentes departamentos, clientes, parceiros, fornecedores, etc.). Há diversas técnicas, quase sempre muito visuais, que podem ajudar, como mapas de jornada, canvas de modelos de negócio, quadros de personas e mapas de experiência. Além disso, o Design Thinking também pode ser visto como um processo com várias fases: geralmente começa com a Empatia (pesquisa e entendimento do contexto das pessoas e do negócio), passando pela Definição de um desafio, Ideação (com boas e muitas ideias), Prototipagem (uma versão mais pequena e facilmente testável de um produto/serviço/experiência/processo, até a fase de Teste, na qual podemos aprender o suficiente para tornar solução algo escalável.
“Qualquer empresa que não dedique pelo menos 20% do seu tempo para pensar (e criar) o futuro, não está a falar sério sobre inovação.”
A pressão pela inovação pode representar uma fonte de stress dentro das empresas. Como incorporar a inovação de uma forma saudável para os negócios e as pessoas?
GM: A inovação sempre irá começar por um grupo de pessoas a ter ideias. Como eu disse anteriormente, é preciso tirar tempo para isso. Qualquer empresa que não dedique pelo menos 20% do seu tempo para pensar (e criar) o futuro, não está a falar sério sobre inovação. Depois, dependendo do tamanho da empresa, essa estrutura pode ganhar mais corpo, com redesenho organizacional com líderes de inovação, um processo bem-definido de criação (e teste) de novos modelos de negócios, treinamento de equipas em Design Thinking ou métodos similares, criação de parcerias, definição de KPIs de inovação e até novas formas de avaliar e recompensar os projetos inovadores.
Para quem está a montar ou remodelar um negócio neste momento, quais são os atributos essenciais de uma empresa ou marca em 2022 para se manter relevante?
GM: Eu destacaria um: a capacidade de se reinventar sempre. O que fez sucesso até agora não garante o sucesso amanhã. O contexto global, o comportamento do consumidor e a tecnologia mudam com uma velocidade jamais vista. É impossível acreditar que um negócio continue relevante se não conseguir acompanhar essas mudanças com velocidade.
Podes recomendar algumas ferramentas práticas que ajudam as empresas a lidar com tantas mudanças em tão pouco tempo?
GM: Eu sou fã e utilizador das ferramentas associadas ao Design Thinking porque são muito visuais e permitem extrema colaboração: análise de cenários futuros com Mapas de Contexto; entendimento do negócio com o Canvas de Modelos de Negócios (e suas variações); ferramentas de empatia (Mapa de Empatia, Canvas da Proposta de Valor, mapas de personas, jornadas do consumidor) para entender melhor as pessoas. Há uma panóplia de ferramentas por aí, quase sempre muito simples e que podem ser utilizadas por qualquer tipo e tamanho de negócio.