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Independence Insights #13
Considera-se influenciável? Pense e responda com sinceridade: quantas vezes foi plenamente convencido por algo que viu no Instagram? Se isso aconteceu pelo menos uma vez, a resposta a esta questão é um grande SIM.
Mas calma, não nos leve a mal (afinal, quem lhe disse que essa característica é negativa?). A verdade é que, no fundo, acreditamos que todos nós somos um pouco influenciáveis - e, ao contrário do que o senso comum diz, essa é uma característica maravilhosa. O turbilhão psíquico-social mostra-nos que somos pessoas abertas a ouvir histórias e a colocarmo-nos no mundo como criaturas naturalmente curiosas sobre a experiência de vida do outro. Não é uma característica maravilhosa?
A Independence Insights desta semana ensaia um mergulho no oceano da influência digital, que nos inunda mais a cada dia, mostrando o quanto a nossa ideia sobre influenciar é um belo retrato da nossa época.
Por falar em histórias, curiosidade e universo digital, aproveitamos para deixar aqui um convite: conheça mais sobre o nosso trabalho e visite o nosso repositório de artigos e antigas edições da newsletter no novo site da Independence.
Uma vez velhas conhecidas, para sempre grandes amigas
Acredite, é desta forma que a nossa relação com a ideia de influência é vista na história da sociedade. Esta correlação remete-nos a tempos bem mais antigos ao surgimento da internet - espaço esse que, hoje, é considerado o Partenon quando o assunto é inspirar, induzir e motivar o comportamento moderno. Isto porque o sentimento básico que nos leva a formar uma opinião a partir da conversa e/ou experiência de outra pessoa é a procura por pertencimento. Acompanhe o raciocínio: desde muito cedo, tendemos a sentir-nos mais confortáveis quando estamos cercados de pessoas que possuem traços, vivências, pensamentos e características semelhantes às nossas - isto porque um dos pilares do bem-estar psico-social é a construção de relacionamentos interpessoais que passem a sensação de segurança. E é exatamente essa característica da nossa mente que nos faz mais abertos a ouvir histórias e a procurar conexões humanas a partir de boas, longas e detalhadas conversas sobre as vivências de pessoas com as quais nos identificamos. Ao partilharmos as nossas histórias com semelhantes, sentimo-nos parte de algo superior à nossa vivência individual - tornando a experiência confiável, acolhedora e, principalmente, segura (já se deve ter sentido assim quando acompanhou o seu influenciador favorito).
Dando um zoom in nesta constatação, conseguimos perceber que é exatamente nestes espaços de partilha genuína que fazemos o exercício de olharmos para dentro com o intuito de nos colocarmos para fora, visando o coletivo - seja de forma propositada ou meramente instintiva. Há quem diga, inclusive, que a sobrevivência da nossa espécie é o resultado direto da influência no seu estado mais bruto, uma vez que o ato de transmitir sabedoria para grupos específicos em prol do bem-estar conjunto (que, nesse caso, é a evolução e sucesso da espécie homo sapiens) não é uma técnica tão nova assim.
Aprofundar a reflexão sobre o que é, de facto, este estilo de comunicação que dita tendências, comportamentos e características geracionais é imprescindível para o exercício de olhar para o futuro (para tais reflexões, recomendamos esta edição fantástica da Kaleidoscope sobre a influência e os seus impactos enquanto retrato social) - afinal, apesar de ser algo que nos acompanha desde os primórdios, o impacto da influência nas nossas realidades caminha sob uma linha ténue entre o avanço, como o uso eficiente de TikTokers em campanhas políticas com o incentivo à vacinação, e o estrago, como a deterioração da saúde mental dos jovens pela exposição constante a padrões estéticos inalcançáveis (aqui e aqui também).
Para o bem e para o mal, o que é certo (e não é de agora) é que a influência é algo que acompanha as nuances da nossa sociedade, expondo o que há de melhor entre nós (e também o que há de pior). Abordá-la como uma velha conhecida para, no presente, diminuir os lados problemáticos e tratá-la cada vez mais como uma boa amiga é uma reflexão mais do que urgente para os próximos anos - afinal, não é algo que vá desaparecer.
Já diriam as Destiny Child: can you pay my bills?
Algo capaz de criar um mercado tão sólido e potente quanto o da influence economy veio definitivamente para ficar. Com as proporções atuais, a parceria entre o conceito de influência com o marketing digital é capaz de gerar empregos, movimentar grandes valores, mudar economias locais e globais e, se usada de forma estratégica e genuína, alavancar marcas e potenciais celebridades. Ian Randolph, Head of Product e R&D na Tailify, que o diga:
“A economia de influência é um futuro emocionante. Além de recompensar as marcas pela autenticidade ao invés da manipulação, implicará uma mudança de recursos de plataformas de anúncios de milhões de dólares para os próprios criadores, que agora serão remunerados diretamente pela sua capacidade de mover pessoas, criando uma carreira mais viável para milhões de criadores. Mais importante, ainda, a economia de influência é o sonho do indivíduo que procura ser livre para aprender com qualquer um e concentrar-se em tornar-se quem mais deseja ser com a ajuda de quem se quer assemelhar.”
Em resumo: numa relação de influência justa e sincera, ganha tanto quem consome, quanto quem produz.
Uma pesquisa feita pela IZEA Worldwide em 2020 indicou alguns dados que reforçam esta visão:
63% dos entrevistados disseram achar o conteúdo criado por influenciadores mais atraente do que a publicidade com script;
67% dos entrevistados que são utilizadores de redes sociais disseram que gostavam de ser um influenciador digital para divulgar o seu produto ou marca favorita;
30% consideravam-se influenciadores.
Complementando os resultados da pesquisa, Sinead Norenius-Raniere, vice-presidente da agência de influenciadores Valassis, diz que
“com tempo, compromisso e esforço consistente, é possível que uma pessoa comum se torne um influenciador de sucesso. Deve criar conteúdo suficiente e esse processo, às vezes, pode levar anos para que as plataformas o apoiem financeiramente, mas é totalmente possível que isso leve a uma carreira em tempo integral.”
E, por mais duro que seja aos céticos, tal profissionalização do mercado de influenciadores não beneficia apenas um lado da relação influencer/consumidor, como reforça a extensa pesquisa feita pela parceria entre a YOUPIX e a BOX1824:
“influenciar está diretamente relacionado a profissionalizar. É oferecer condições de trabalho para alguém ou para um grupo desenvolver as suas ideias, as suas lutas”.
Noutras palavras, esta relação é capaz de dar voz aos mais distintos grupos sociais, desde aqueles que já estão habituados a ver os seus temas debatidos na esfera pública até aos que geralmente estão à margem.
Seguindo esta linha de pensamento, alguns dados divulgados no Lisboa Web Summit de 2018 também chamam a atenção para a crescente necessidade de um público que, cada vez mais, quer ser ouvido:
82% das pessoas querem escolher o que ver nas redes sociais, ao invés de serem influenciados por algoritmos;
78% querem ver mais conteúdo real, criado por pessoas;
76% querem consumir conteúdos recomendado por outros utilizadores e não por plataformas virtuais.
Em resumo, segundo a dupla YOUPIX e BOX1824, estes dados mostram que as redes sociais já se tornaram plataformas horizontais - ou seja: livres da antiga hierarquia de celebridades, onde apenas um grupo de pessoas com características elitistas e pouco diversas se tornavam relevantes. Hoje, na verdade, essas redes estão cada vez mais diluídas no coletivo e ligadas por relações mais diretas, constantes e personalizadas com cada comunidade da sociedade, existindo desejos, necessidades, pautas, opiniões e linguagens próprias.
Neste estudo, as empresas vão mais longe e desenvolvem uma equação capaz de medir o potencial de uma estratégia de influência. Temos a certeza que não vão ficar surpreendidos se vos dissermos que, nessa conta “matemática”, a grande fórmula do sucesso é a união de quatro fatores simples (e muito ancestrais): conexão (com a comunidade), compromisso (com as ações em prol da comunidade), coerência (de valores dentro da comunidade) e autenticidade (nos conteúdos direcionados à comunidade). Simples para alguns, um grande desafio para outros – afinal, o compromisso das marcas não pode ser sazonal. Há influência quando há coerência e permanência.
Para além desse movimento em direção às nossas raízes, também existe relevância no processo de olhar para o futuro (e deixar as velhas questões e inseguranças para trás - afinal, já temos contacto com os resultados positivos das estratégias de influência há bastante tempo). Este artigo da Ogilvy sobre as tendências neste tema para 2022 defende que é este o momento ideal para reconhecer que o papel de tais celebridades digitais já é inerente às campanhas de marketing - e que o foco, na verdade, é compreender como fazer ainda mais sumo com esta fruta já conhecida pelos consumidores.
O amanhã ao metaverso pertence?
Algo que mexe com o nosso ânimo é teorizar sobre quais é que serão as novas disrupções e inovações do mercado de influência mundial - e, nessas longas conversas e pesquisas, algo já é certo - o metaverso é o novo alvo dos influenciadores e marcas.
Para o deixar tão curioso e instigado quanto nós, trouxemos alguns dos projetos mais recentes que misturam realidades, píxeis, troca de experiências (exatamente, com robots!) e o fomento a uma nova forma de influenciar:
Conheça a Liv, a nova embaixadora virtual do Renault Kadjar:
Lil Miquela, a influencer que tem 3 milhões de seguidores, mas não existe:
Apresentadora brasileira cria Satiko, a sua própria influenciadora digital (que, apesar de ser inspirada na artista, terá características comportamentais diferentes):
Puma apresenta Maya, a sua influencer virtual na Ásia:
Antigos ou novos. De carne e osso ou píxeis. Remunerados ou não. Independentemente das particularidades, a grande questão é o que nos fez chegar até aqui: o sentimento de pertença. Ao nos reconhecermos nas experiências do outro, sejamos consumidores ou influenciadores, sentimo-nos mais fortes e seguros para permanecermos relevantes no nosso tempo. No mundo digital, é igual. Aqueles que não estiverem devidamente integrados com os seus públicos tendem a desaparecer com o tempo.
Por mais conteúdos reais e trocas de experiência.